Sem plano nacional para a educação, crise deve se agravar
Luiza Caire
Fonte: correiobraziliense.com.br
Em 03/06/21
As primeiras avaliações diagnósticas sobre o desempenho dos
estudantes durante a pandemia começam a ser divulgadas — e são desastrosas, até
para os mais otimistas. Os números são muito preocupantes não só quanto à
aprendizagem, mas, também, no que se refere ao aumento da desigualdade e do
abandono escolar; neste último caso, a situação é mais grave entre os jovens
que estão no ensino médio.
Segundo estimativas
da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), divulgadas recentemente, a
América Latina (AL) retrocedeu em pelo menos oito anos no acesso ao
conhecimento durante a pandemia. Em razão do pouco incentivo governamental para
o acesso ao ensino remoto, milhões de crianças e jovens ficaram literalmente
sem estudar ao longo de 2020, e isso ainda continua neste início de 2021. A OEI
estima que cerca de 17 milhões de estudantes dos últimos anos do ensino médio e
dos primeiros anos da graduação terão dificuldades para continuar os estudos,
principalmente por terem que auxiliar na renda familiar.
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Crianças estudando com uso da máscara Imagem: jornal.usp.br |
O problema deve se
agravar ainda mais, especialmente em países, como o Brasil, que não esboçaram
nenhum plano nacional de conectividade digital que pudesse chegar aos mais
pobres, levando-se em conta que a segunda onda de covid-19 está extremamente
agressiva, e a vacinação, muito lenta. As escolas públicas devem continuar
fechadas, em sua larga maioria. As escolas particulares, por sua vez, estão
conseguindo oferecer o ensino combinado presencial e remoto, apesar das
dificuldades geradas pelos ciclos sanitários da pandemia, que se agravavam em
alguns momentos em determinadas regiões do país.
Quando a pandemia
começou, em meados de março de 2020, e as escolas tiveram de fechar para o
ensino presencial, as redes públicas de ensino que mais rapidamente se
organizaram para oferecer o ensino remoto, guiado pelas novas tecnologias,
foram São Paulo e Paraná. O estado de São Paulo combinou a oferta por meio de
três grandes mecanismos: o chamado Centro de Mídias da Educação de São Paulo
(CMSP), o uso de aplicativos para aulas on-line e as aulas assíncronas, numa
parceria com a TV Cultura.
Ao longo do
processo, a Secretaria de Educação começou a perceber que, apesar desses
esforços, muitos estudantes não estavam conseguindo acessá-lo ou não conseguiam
se adaptar a esse modelo de ensino. A preocupação com o abandono escolar
começou a crescer, e, com isso, verificou-se a necessidade de se instituir um
programa de busca ativa para trazer os alunos de volta às atividades escolares,
mesmo que remotas.
E foi exatamente o
estado de São Paulo que mais uma vez saiu na frente, divulgando agora os
resultados provocados pela pandemia na aprendizagem escolar, ao avaliar, no
início de 2021, estudantes do 5° e do 9° ano do ensino fundamental e do 3° ano
do ensino médio em língua portuguesa e matemática. Os números mostraram que a
pandemia provocou um grande estrago na aprendizagem escolar. O efeito maior se
deu para os alunos do 5° ano. Em 2019 — portanto, antes da pandemia —, a nota
média em língua portuguesa no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)
foi de 223 pontos, e, agora, esse número caiu para 194 — 29 pontos a menos —, o
que equivale à nota média obtida há 10 anos, ou seja, em 2011. Em matemática a
situação foi ainda pior. Em 2019, a nota média foi de 243 pontos, enquanto o
resultado de 2021 foi de 196 pontos — ou seja, 47 pontos a menos —, o que
equivale ao resultado de 14 anos atrás!
Em relação ao 3°
ano do ensino médio, última etapa da educação básica, a rede retroagiu em 11
pontos e 18 pontos em língua portuguesa e matemática, respectivamente, voltando
aos resultados próximos aos de 2013. Os resultados relativos ao 9º ano do
Ensino Fundamental são muito similares a estes últimos. Se esta é a situação na
rede estadual de São Paulo, imaginem agora o retrocesso escolar nos municípios mais
pobres, nos grotões deste país, muitas vezes esquecidos pelo poder público.
Precisamos reconhecer que há uma pandemia educacional que pode ser devastadora
em médio e em longo prazo se nada for feito.
Os números de São
Paulo revelam o dano cognitivo, mas há, também, o decorrente do tempo que os
alunos ficam afastados das escolas, que impacta a saúde mental e o
desenvolvimento socioemocional dos estudantes. É preciso que, urgentemente, o
Ministério da Educação organize, em colaboração com as secretarias de Educação
de estados e municípios, uma agenda nacional de enfrentamento à pandemia
educacional, em colaboração com a sociedade. Como diz a poeta e educadora
chilena Gabriela Mistral, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura: “O futuro
das crianças é sempre hoje. Amanhã será tarde”.
Elaborando o subtítulo, o mesmo deverá ser inserido no arquivo texto editado.
ResponderExcluirGrato!